quinta-feira, agosto 26, 2010

Por aí...

Eu não sei dizer
Nada por dizer
Então eu escuto...

Eu não vou falar
Nada por falar
Então eu escuto...

(Secos e Molhados)

sábado, agosto 21, 2010

Sobre o que se olha e sobre o que se vê (III)

Já cantou La Negra, que "El tiempo pasa nos vamos poniendo viejos / Yo el amor no lo reflejo como ayer / En cada conversación cada beso cada abrazo / Se impone siempre un pedazo de razón".
A razão também domina o que se olha e o que se vê.
A razão é que não deixa o amor ter o mesmo reflexo de antes.
A razão não deixa a criança de cada um brilhar e se expor.
A razão não permite que as diferenças convivam de forma a se complementar e assim, ser mais.
A propriedade da razão liquida conversas que poderiam não ter fim... Alguém "tem" e o outro alguém não. Rompe a troca. Rompe o diálogo. Desqualifica o outro.
Mas o tema aqui é o que se vê, como se vê, como se olha.
Considerando o tempo já vivido e as coisas que fui aprendendo nesse tempo, tenho a ideia de que a razão limita o olhar. Porque o direciona para o que possa ser importante. São. Coerente.
Quero olhar com olhos de criança. Descobrir o inusitado. O detalhe. O reflexo. Assim vou poder desvelar o encoberto. Ver o outro lado.
Quero olhar o lado de dentro. Ir além da aparência, na essência.
Não creio que é a razão que me leva a esse ponto de vista.

domingo, agosto 15, 2010

Sobre o que se olha e sobre o que se vê (II)


Adoro Rubem Alves. Ler Rubem Alves me ajuda a ser uma pessoa melhor, uma professora melhor, uma assistente social melhor. Esta crônica, fala do olhar e do ver. Segue a "pauta" que está na minha cabeça...



A arte de ver (Rubem Alves)



Ela entrou, deitou-se no divã e disse: “Acho que estou ficando louca”. Eu fiquei em silêncio aguardando que ela me revelasse os sinais da sua loucura. “Um dos meus prazeres é cozinhar. Vou para a cozinha, corto as cebolas, os tomates, os pimentões – é uma alegria! Aconteceu, entretanto, faz uns dias, eu fui para a cozinha para fazer aquilo que já fizera centenas de vezes: cortar cebolas. Ato banal sem surpresas. Entretanto, cortada a cebola, eu olhei para ela e tive um susto. Percebi que nunca havia visto uma cebola. Aqueles anéis perfeitamente ajustados, a luz se refletindo neles: tive a impressão de estar vendo a rosácea de um vitral de catedral gótica. De repente a cebola, de objeto a ser comid,o se transformou em obra de arte para ser vista! E o pior é que o mesmo aconteceu quando cortei os tomates, os pimentões... Agora tudo o que vejo me causa espanto...” Ela se calou esperando o meu diagnóstico. Eu me levantei, fui até a estante de livros e de lá retirei as “Odes Elementales”, de Pablo Neruda. Procurei a “Ode à cebola” e lhe disse: “Essa perturbação ocular que a acometeu é comum entre os poetas. Veja o que Neruda disse de uma cebola igual àquela que lhe causou assombro: “...rosa de água com escamas de cristal...” Não, você não está louca. Você ganhou olhos de poeta... Os poetas ensinam a ver.”

Ver é muito complicado. Isso é estranho porque os olhos, de todos os órgãos dos sentidos, são os de mais fácil compreensão científica. A sua física é idêntica à física ótica de uma máquina fotográfica: o objeto do lado de fora aparece refletido do lado de dentro. Mas existe algo na visão que não pertence à física. William Blake sabia disso é afirmou: “A árvore que o sábio vê não é a mesma árvore que o tolo vê”. Sei isso por experiência própria. Quando vejo os ipês floridos sinto-me como Moisés, diante da sarça ardente: ali está uma epifania do sagrado. Mas uma mulher que vivia perto da minha casa decretou a morte de um ipê que florescia à frente de usa casa, porque ele sujava o chão, dava muito trabalho para a sua vassoura. Seus olhos não viam a beleza. Só viam o lixo.

A Adélia Prado diz: “Deus de vez em quando me tira a poesia. Olho para uma pedra e vejo uma pedra”. O Drummond viu uma pedra e não viu uma pedra. A pedra que ele viu virou poema.

Há muitas pessoas de visão perfeita que nada vêem. “Não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. Não basta abrir a janela para ver os campos e os rios”, escreveu Alberto Caeiro. O ato de ver não é coisa natural. Precisa ser aprendido. Nietzsche sabia disso é afirmou que a primeira tarefa da educação era ensinar a ver. O Zen Budismo concorda e toda a sua espiritualidade é uma busca da experiência chamada “satori”, a abertura do “terceiro olho”. Não sei se Cummings se inspirava no Zen Budismo mas o fato é que escreveu “ Agora os ouvidos dos meus ouvidos acordaram e agora os olhos dos meus olhos se abriram...”

Há um poema no Novo Testamento que relata a caminhada de dois discípulos na companhia de Jesus Ressuscitado. Mas eles não o reconheciam. Reconheceram-no subitamente: ao partir do pão “os seus olhos se abriram”. Vinícius de Moraes adota o mesmo mote no “Operário em Construção”: “De forma que, certo dia, ao cortar o pão, o operário foi tomado de uma súbita emoção ao constatar assombrado que tudo naquela mesa – garrafa, prato, facão – era ele quem fazia, eles um humilde operário, um operário em construção”.

A diferença se encontra no lugar onde os olhos são guardados. Se os olhos estão na Caixa de Ferramentas eles são apenas ferramentas que usamos por sua função prática. Com eles vemos objetos, sinais luminosos, nomes de ruas – e ajustamos a nossa ação. O ver se subordina ao fazer. Isso é necessário. Mas é muito pobre. Os olhos não gozam... Mas quando os olhos estão na Caixa dos Brinquedos eles se transformam em órgãos de prazer: brincam com o que vêem, olham pelo prazer de olhar, querem fazer amor com o mundo.

Os olhos que moram na Caixa de Ferramentas são os olhos dos adultos. Os olhos que moram na Caixa dos Brinquedos são os olhos das crianças. Para ter olhos brincalhões é preciso ter as crianças por nossas mestras. Alberto Caeiro disse haver aprendido a arte de ver com um menininho, Jesus Cristo fugido do céu, tornado outra vez criança, eternamente: “A mim ensinou-me tudo. Ensinou-me a olhar para as coisas. Aponta-me todas as coisas que há nas flores. Mostra-me como as pedras são engraçadas quando a gente as têm na mão e olha devagar para elas...”

Por isso, porque eu acho que a primeira função da educação é ensinar a ver, eu gostaria de sugerir que se criasse um novo tipo de professor, um professor que nada teria a ensinar, mas que se dedicaria a apontar para os assombros que crescem nos desvão da banalidade cotidiana. Como o Jesus Menino do poema do Caeiro. Sua missão seria partejar “olhos vagabundos...”

Este e outros maravilhosos textos podem ser encontrados na "Casa de Rubem Alves"

O Seu Olhar



Conheci esta música, na versão do Arnaldo Antunes, trilha do filme "Bicho de Sete Cabeças". Depois, mais tarde, a Alê me apresentou a versão da Ceumar. Mais doce. Mais leve.

Tenho um vídeo com olhares da Mariana e essa música. Outro dia posto aqui.

Sobre o que se olha e sobre o que se vê (I)

Já faz tempo que essa questão de pensar no que olhamos e no que vemos me chama atenção. Por isso, vou fazer algumas reflexões sobre este sentido, tão aguçado em mim. E tão limitado.
Pra começar, se me perguntam o que mais me chama atenção em alguém é o olhar. Adoro me comunicar pelo olhar, mesmo sabendo que corro o risco de não ser entendida. Gosto de exercitar "falar pelo olhos".
Tenho algumas pessoas com as quais isso é muito fácil. Outras, nem berrando com a maior potência possível das minhas cordas vocais, me faço entender.
Os olhos falam... comer com os olhos... ver para crer... de tudo, ver o que está por detrás do visto é o maior desafio,na maioria das vezes. Mas, tem outras, em que ver o que está diante do nariz é o mais dificil. Daí, entra o medo. O desviar o olhar. Olhar sem ver.
Desculpem a viagem. Juro que tudo isso faz muito sentido pra mim. Talvez quando eu for escrevendo mais seja possível entender. Talvez, precise ler nos meus olhos de que estou falando.

domingo, agosto 08, 2010

Como amar tanto assim???


Em pleno dia dos pais, venho aqui declarar meu amor arrebatador à Mariana. Cada dia, essa pequena me faz mais feliz, mais grata a esse mundo por estes momentos tão maravilhosos que aqueles olhinhos verdes me proporcionam...
Querida, geniosa, inteligente, carismática. Impossível não se apaixonar por essa menina.
À ela, dedico uns versos de Drexler...

"Donde tu estás
yo tengo el Norte,
y no hay nada como tu amor
como medio de transporte.

En este instante,
precisamente,
más canto y más te tengo yo
presente,
más te tengo yo presente".

Filha, obrigada por me fazer minha vida ter sentido. Te amo muito!!!

quarta-feira, agosto 04, 2010

Adoção


Considero a adoção um grande ato. São milhares de crianças e adolescentes hoje no Brasil, vivendo nos "abrigos" que, por lei, só podem abrigá-los por dois anos. Depois o Judiciário precisa reencaminhá-lo para a família ou achar alguma outra solução.
Como assistente social, tenho contato com algumas histórias assombrosas. Abrigos que são mini-presídios, mini-manicômios, e que, junto com a escola e outras instituições comprovam que a institucionalização da questão social só a perpetua. Crianças medicalizadas. Crianças estigmatizadas ao quadrado, ao cubo, sei lá.
Mas não quero discutir, agora, teoricamente esta questão. Quero discutir com o coração. Tenho assistido algumas reportagens sobre o tema e estou com vontade de propor uma pesquisa em Pelotas sobre o perfil das pessoas que querem adotar. Há muitas verdades ditas sobre o tempo de espera, as exigências dos pais, à devolução das crianças. Conhecer a fundo o problema é o melhor para conseguir boas soluções.
Vou voltar ao tema em breve.

terça-feira, agosto 03, 2010

Quem faz o acaso?


Pensar sobre as coisas boas e ruins que nos acontecem, todos os dias, todas as horas.
Buscar razão em desencontros, atrasos, empecilhos, atrapalhações, lembranças em horas impróprias...
Querer entender porque algo que tinha tudo pra dar certo, deu errado. E outro algo que tinha tudo pra dar errado, deu certo...
Tudo isso são questões que teimamos em entender, quando desde Shakespeare, já se sabia que há mais mistérios entre o céu e a terra do que sonha a nossa vã filosofia...
Até o Marx, o mais materialista de todos, afirmava que entender e explicar o mundo era tolice... há que transformá-lo.
Pois eu, com minha formação materialista, de esquerda da esquerda, cada vez mais tenho certeza de uma coisa: nao nos mandamos... mesmo!
E digo mais: ainda bem!

Agradeço os rumos que tenho tomado. Agradeço os amigos que tenho. Agradeço os amores que construi. Os que perdi. Os que ainda terei.

Que eu seja capaz de aprender cada dia com as lições que a vida tem me preparado. E seja capaz de passar um pouquinho disso para aqueles que estão por perto.

Que assim seja!
baby